Feliz dia dos Pais

Hoje em dia ser pai é sinónimo de muita coisa mas tantas vezes falta o essencial.
Hoje em dia ser pai é rebolar no chão, brincar às princesas e até deixar pintar as unhas.
Hoje em dia ser pai é dizer "vou contar até 3" e fazê-lo numa sequência vezes infinito.
Hoje em dia ser pai é ir a todas as reuniões da escola e nunca, sob hipótese alguma, faltar à consulta da pediatra ou às outras todas, mesmo às de rotina seja para pesar e medir.
Hoje em dia ser pai é trabalhar e saber ir às compras, cozinhar e arrumar mantendo os padrões de qualidade da mãe.
Hoje em dia ser pai é saber comprar roupa para as filhas e depois conjugá-la no dia a dia, sem misturar padrões ou estilos.
Hoje em dia ser pai é estar informado sobre tudo e saber falar de tudo, incluindo o dia exato de quando a filha deixou a chucha ou perdeu o 1.º dente.

Ser pai, nos tempos de hoje, é ser muita coisa, com um papel tão importante como o ser mãe - e sobre a sua importância não há discussão possível - mas parece que ser pai tem de ser igual ao ser mãe e é aí que não concordo. Nós mulheres apregoamos os direitos iguais, mas depois lá em casa, nas coisas de casa, em especial nos filhos e nas coisas dos filhos, mandamos nós. Os pais têm o dever/ a obrigação de fazer tanto como nós mães (de preferência ainda mais) mas depois quando chega a altura de decidir a escola a inscrever, a roupa a comprar, a data da próxima consulta de rotina, a dieta alimentar... pára tudo que somos nós, as mães, que queremos decidir. 

No meu tempo de criança, das minhas memórias de infância, o meu pai é uma referência vital, a figura que mais valores me passou, seja na educação, seja na capacidade de trabalho, seja no respeito pelos outros, acima de tudo pelos de casa. Faltas de educação não eram permitidas, menos ainda atitudes de "meninas mimadas", de quem não valorizasse o que tinha, fosse pouco ou muito. E fê-lo mesmo sem ter ido a nenhuma reunião da escola, a raras consultas e menos ainda ter tido tempo (ou sequer paciência) para rebolar no chão a brincar. O meu pai era "o Pai" - o adulto e o chefe de família que amava mas delegava na mãe as responsabilidades do dia-a-dia. Partilhavam tarefas e deveres, a ambos sempre foi mostrado respeito sem nunca se perder o amor, os laços entre pai-filhas. Eu sou do tempo em que bastava um olhar mais sério do meu Pai para acabar com uma discussão. E não era medo, mas sim respeito e limites. Foi menos pai por não ter brincado ou por nunca ter ajudado nos trabalhos de casa? Sei a resposta e sei que há coisas que mudaram para melhor, como os pais poderem assistir aos partos ou ter mais tempo para ficar em casa em licença parental ou até mesmo poderem faltar ao trabalho, com igual direto/dever às mães, quando as filhas ficam doentes. Houve de facto uma evolução da figura do pai, que não tem de ser austero ou incapaz de expressar sentimentos para conseguir impor respeito. Mas não precisa de ser 8 ou 80. 

Tive a sorte de ter um Pai que me conseguiu passar o que realmente importa - os valores da família e a educação, de uma forma muitas vezes peculiar mas eficaz. 

E tenho a sorte que ter encontrado para pai das minhas filhas alguém que continua a acreditar que ser Pai é ser amigo mas que ser Pai é acima de tudo uma responsabilidade única, que precisa ser trabalhada e gerida com muita sensibilidade. É poder rebolar no chão mas conseguir impor autoridade de adulto quando é preciso. É também saber confiar nas decisões de mãe - que digam o que disserem tem uma sensibilidade diferente para muitos temas - mas estar presente nos momentos importantes e decisivos da vida familiar. Tenho a sorte de ter para pai das minhas filhas alguém que considera o papel de pai como o papel mais importante da sua vida, colocando as filhas e os seus interesses como prioridade. Parece simples mas na verdade não é. Ser pai ou ser mãe é dos maiores desafios da vida e algo que nunca se domina, antes se vai aprendendo e crescendo como pais e como seres humanos.

Obrigada aos Pais da minha vida, ao meu e ao das minhas filhas por serem referências e exemplos de Pais, de gerações diferentes, com estilos diferentes mas iguais na sua essencial. 



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